Para alguns analistas a economia brasileira será refém de seu sucesso. Alguns tem vaticinado que a economia está em ritmo muito acelerado e que este ano o governo estará diante de escolhas duras numa economia a pleno emprego. As evidências para tal vaticínio seriam: a geração de 2,5 milhões de empregos no ano passado; informações de insuficiência de profissionais com certas qualificações; e, ainda, a taxa de inflação acima do centro da meta do Banco Central. Nessas condições, haveria a necessidade de ajustes tenebrosos nos gastos do governo de forma a restaurar alguma relação fixa do mundo dos economistas.
A geração recorde de emprego do ano passado indica mesmo que os trabalhadores brasileiros escaparam da crise de emprego que ainda persegue seus correlatos americanos e europeus. O mercado de trabalho brasileiro vem se recuperando, na verdade desde meados de 2009. Os salários reais médios se elevaram 6,8%. Animado com os resultados de 2010, o Ministro do Trabalho anuncia que o governo pretende que sejam gerados mais 3 milhões de empregos esse ano.
Já economistas e colunistas, acostumados a prescrever sacrifícios purificadores a donas de casa às voltas com rendas insuficientes para gastos essenciais e/ou conspícuos, alarmam leitores e espectadores com previsões sombrias para as possibilidades de continuação da suposta bonança que graçaria no mercado de trabalho brasileiro. Supondo que a economia esteja em pleno emprego, recomendam, o ritmo de geração de emprego em 2011 terá de ser menor, a menos que se queira purgar os pecados dos excessos.
A realidade, como de habito, é sempre mais complexa do que nossas teorias e percepções da realidade. E, por isso, é sempre possível mais de uma interpretação dos fatos de forma que talvez não estejamos ainda no pleno emprego suposto por alguns comentaristas. Vejamos, em primeiro lugar, a situação do mercado de trabalho brasileiro a partir dos dados da pesquisa PNAD do IBGE.
Número de Desempregados em Milhões de Pessoas
A geração recorde de emprego do ano passado indica mesmo que os trabalhadores brasileiros escaparam da crise de emprego que ainda persegue seus correlatos americanos e europeus. O mercado de trabalho brasileiro vem se recuperando, na verdade desde meados de 2009. Os salários reais médios se elevaram 6,8%. Animado com os resultados de 2010, o Ministro do Trabalho anuncia que o governo pretende que sejam gerados mais 3 milhões de empregos esse ano.
Já economistas e colunistas, acostumados a prescrever sacrifícios purificadores a donas de casa às voltas com rendas insuficientes para gastos essenciais e/ou conspícuos, alarmam leitores e espectadores com previsões sombrias para as possibilidades de continuação da suposta bonança que graçaria no mercado de trabalho brasileiro. Supondo que a economia esteja em pleno emprego, recomendam, o ritmo de geração de emprego em 2011 terá de ser menor, a menos que se queira purgar os pecados dos excessos.
A realidade, como de habito, é sempre mais complexa do que nossas teorias e percepções da realidade. E, por isso, é sempre possível mais de uma interpretação dos fatos de forma que talvez não estejamos ainda no pleno emprego suposto por alguns comentaristas. Vejamos, em primeiro lugar, a situação do mercado de trabalho brasileiro a partir dos dados da pesquisa PNAD do IBGE.
Número de Desempregados em Milhões de Pessoas
Fonte: PNAD-IBGE
Uma primeira observação que se pode fazer é que ainda há um bom caminho a percorrer até o pleno emprego. Conforme mostra a tabela acima, existiam cerca de 8,6 milhões de pessoas procurando emprego em 2009 sem encontrar. Esses formam o estoque de desempregados herdados de 2009. Além disso, anualmente, tem-se uma média de cerca de 2 milhões de novos entrantes no mercado de trabalho. Considerando pleno emprego, como usual, o nível em que todos aqueles desejosos e aptos a trabalhar encontram emprego aos salários vigentes, temos que o estoque de desempregados ao final de 2010 deve chegar a cerca de 8 milhões. O ritmo de 2,5 milhões de novos empregos anuais nos levaria ao nível de pleno emprego em cerca de 17 anos. Muito tempo! É necessário conseguir essa proeza mais cedo.
As coisas parecem ainda piores quando consideramos a parcela dos trabalhadores disponíveis para o trabalho, mas não contabilizados na população economicamente ativa. Os trabalhadores disponíveis para o trabalho são aqueles que procuraram emprego por algum tempo e desistiram de procurar no período da pesquisa devido às dificuldades de encontrar emprego. Em dezembro de 2010 cerca de 1,8 milhão de pessoas estava nessa condição. Parte dessas pessoas certamente voltará a procurar emprego em 2011, ainda mais se o aumento continuado das contratações for mantido. Olhando deste ponto de vista, fica claro que o ritmo de 3 milhões de novos empregos esperados pelo Ministro Lupi para 2011 seria apenas suficiente para evitar uma crise de desemprego. Isto é, um acúmulo de trabalhadores subempregados ou desalentados. Enfim, a partir dessa realidade parece difícil conceber que estejamos mesmo perto do pleno emprego.
Parece que o Ministro tem mais claro do que os colunistas-economistas a necessidade de criação continuada e ampliada de postos de trabalho. Deve saber que a superação da miséria, a prioridade várias vezes declarada pelo governo a que serve, necessita de uma economia capaz de gerar empregos decentes para milhares de trabalhadores. Ainda assim, apesar da necessidade de ampliar a criação de emprego, o governo não emplacou uma política deliberada nesse sentido. Isto é, o ritmo ainda está lento. As taxas de criação de postos de trabalho são, ainda, subproduto do crescimento da economia. E esta, dos humores dos empresários.
O ritmo da produção e da geração de emprego no setor privado, nos ensinou Keynes, estão sujeitos as expectativas dos tomadores de decisão. O nível de emprego e a renda dos trabalhadores estão sujeitos às expectativas de lucros que os empresários formam em determinado período com as vendas esperadas para momentos futuros. Os empresários demandarão mais trabalhadores se esperarem lucros maiores com uma maior produção. E menos se a expectativa for a inversa. Dado que as condições de mercado futuras são incertas, o normal é a economia operar abaixo do pleno emprego das forças produtivas. Nessas condições não há mecanismo de mercado que nos leve para o nível de pleno emprego. Políticas de pleno emprego são necessárias. É preciso que o governo gere diretamente emprego; financie quem queira gerar; crie a expectativa de que a demanda pelos produtos das empresas seja firme e crescente.
Os economistas-colunistas não vão gostar, mas parte de uma política de pleno-emprego tem a ver com um governo que gera e financia diretamente postos de trabalho e adote políticas que criem ou ampliem mercados de forma a incentivar o espírito empreendedor privado. Teremos de deixar os sacrifícios fiscais sacrossantos para outra encarnação, se quisermos resolver o problema do desemprego. Se nossos problemas fossem só as vacas sagradas dos economistas...Voltaremos às vacas sagradas dos economistas em outro momento.
Uma primeira observação que se pode fazer é que ainda há um bom caminho a percorrer até o pleno emprego. Conforme mostra a tabela acima, existiam cerca de 8,6 milhões de pessoas procurando emprego em 2009 sem encontrar. Esses formam o estoque de desempregados herdados de 2009. Além disso, anualmente, tem-se uma média de cerca de 2 milhões de novos entrantes no mercado de trabalho. Considerando pleno emprego, como usual, o nível em que todos aqueles desejosos e aptos a trabalhar encontram emprego aos salários vigentes, temos que o estoque de desempregados ao final de 2010 deve chegar a cerca de 8 milhões. O ritmo de 2,5 milhões de novos empregos anuais nos levaria ao nível de pleno emprego em cerca de 17 anos. Muito tempo! É necessário conseguir essa proeza mais cedo.
As coisas parecem ainda piores quando consideramos a parcela dos trabalhadores disponíveis para o trabalho, mas não contabilizados na população economicamente ativa. Os trabalhadores disponíveis para o trabalho são aqueles que procuraram emprego por algum tempo e desistiram de procurar no período da pesquisa devido às dificuldades de encontrar emprego. Em dezembro de 2010 cerca de 1,8 milhão de pessoas estava nessa condição. Parte dessas pessoas certamente voltará a procurar emprego em 2011, ainda mais se o aumento continuado das contratações for mantido. Olhando deste ponto de vista, fica claro que o ritmo de 3 milhões de novos empregos esperados pelo Ministro Lupi para 2011 seria apenas suficiente para evitar uma crise de desemprego. Isto é, um acúmulo de trabalhadores subempregados ou desalentados. Enfim, a partir dessa realidade parece difícil conceber que estejamos mesmo perto do pleno emprego.
Parece que o Ministro tem mais claro do que os colunistas-economistas a necessidade de criação continuada e ampliada de postos de trabalho. Deve saber que a superação da miséria, a prioridade várias vezes declarada pelo governo a que serve, necessita de uma economia capaz de gerar empregos decentes para milhares de trabalhadores. Ainda assim, apesar da necessidade de ampliar a criação de emprego, o governo não emplacou uma política deliberada nesse sentido. Isto é, o ritmo ainda está lento. As taxas de criação de postos de trabalho são, ainda, subproduto do crescimento da economia. E esta, dos humores dos empresários.
O ritmo da produção e da geração de emprego no setor privado, nos ensinou Keynes, estão sujeitos as expectativas dos tomadores de decisão. O nível de emprego e a renda dos trabalhadores estão sujeitos às expectativas de lucros que os empresários formam em determinado período com as vendas esperadas para momentos futuros. Os empresários demandarão mais trabalhadores se esperarem lucros maiores com uma maior produção. E menos se a expectativa for a inversa. Dado que as condições de mercado futuras são incertas, o normal é a economia operar abaixo do pleno emprego das forças produtivas. Nessas condições não há mecanismo de mercado que nos leve para o nível de pleno emprego. Políticas de pleno emprego são necessárias. É preciso que o governo gere diretamente emprego; financie quem queira gerar; crie a expectativa de que a demanda pelos produtos das empresas seja firme e crescente.
Os economistas-colunistas não vão gostar, mas parte de uma política de pleno-emprego tem a ver com um governo que gera e financia diretamente postos de trabalho e adote políticas que criem ou ampliem mercados de forma a incentivar o espírito empreendedor privado. Teremos de deixar os sacrifícios fiscais sacrossantos para outra encarnação, se quisermos resolver o problema do desemprego. Se nossos problemas fossem só as vacas sagradas dos economistas...Voltaremos às vacas sagradas dos economistas em outro momento.