Sem rodeios, vamos à questão da valorização dos professores. Já foi dito que o Governo autoproclamou sua proposta como de valorização dos professores mais titulados, experientes e dedicados exclusivamente às lides da universidade. Em princípio, seria mesmo irracional recusar o apelo desses critérios. O Governo deu até o número: 45,1%. Esse seria o maior reajuste da categoria e incidiria sobre os chamados professores titulares, doutores com dedicação exclusiva. Aqueles de mais experiência e de maior titulação. Por que então os professores recusaram tal proposta?
Primeiro ponto a ser discutido diz respeito ao índice em si. Como se trata de proposta de reajustes escalonados até 2015, os índices deveriam ser deduzidos da inflação desde o último reajuste, em 2010, até 2015. Até março de 2015, quando seria adicionada a última parcela do ajuste proposto, o índice de inflação terá chegado a 30% (pelos cálculos do próprio Governo) ou 34% (pela média de inflação-IPCA dos últimos 2 anos extrapolada para 2015). Dá para perceber, pela última linha da tabela, com os reajustes médios propostos, que 8 das 11 colunas remuneratórias teriam reajustes apenas similar ou mesmo abaixo do índice de inflação de 34%. Na última coluna da esquerda para a direita, os reajustes propostos pelo governo provavelmente apenas reporia a inflação do período. Note-se que essa última coluna é justamente aquela em que se encontram os professores de maior titulação e de dedicação exclusiva à universidade. Nesta coluna também se encontram cerca de 70% dos professores das Universidades Federais. Está claro que na proposta do Governo não há a dita valorização da carreira docente almejada pelos professores e anunciada pelo Governo.
Segundo, o Governo não se guiou de fato por critérios de valorização dos professores mais titulados, com maior dedicação à universidade e com maior experiência para progressão na carreira como vem dizendo. Compare-se, por exemplo, os professores 20 horas com os de 40 horas. Pelo suposto critério adotado, os professores de 40 horas deveriam ter recebido um aumento maior do que o dos professores de 20 horas. As médias de reajustes, coluna por coluna, mostram que os professores 20 horas receberão reajustes maiores do que os professores 40 horas, com a exceção marginal dos professores com mestrado. Quando observamos, por último, o quadro dos professores de dedicação exclusiva (que representam a maior parte da categoria) nota-se que só retoricamente o Governo concedeu reajuste maior para os mais titulados. Na verdade, como mostram as médias, os professores doutores só obtiveram média de reajuste maior do que os mestres. Os reajustes concedidos aos professores com dedicação exclusiva de menor titulação (graduação, aperfeiçoamento e especialização) foram significativamente superiores aos dos professores doutores.
Agora, suponho, estamos em condições de responder à pergunta: por que os professores recusaram a proposta do Governo? Porque ela não é uma proposta de carreira; porque ela não valoriza a titulação, a dedicação exclusiva e a experiência. A proposta apresentada pelo Andes-SN ao Governo, no ano passado, estabelece critérios lógicos de progressão na carreira, valorizando os docentes com dedicação exclusiva, com mais experiência e com maior titulação. Por exemplo, se o professor tiver doutorado, a proposta dos professores prevê um ganho 75% maior do que os vencimentos do professor com graduação apenas. Com dedicação exclusiva, seu salário será 210% maior do que o salário do professor 20 horas, no nível e na titulação correspondentes. Cada nível, dos 13 propostos pela categoria e aceitos pelo Governo, pelo qual o professor passar a cada dois anos, após avaliação de desempenho, terá reajuste salarial de 5%. Nas rodadas de negociações, os professores já deram alternativas ao governo para que a malha salarial da carreira docente, seguindo critérios lógicos similares ao acima ainda que não nos mesmos percentuais, ficasse dentro do salário mais baixo e o mais alto proposto pelo Governo.
Quem atentar novamente para a proposta do Governo não verá nenhum critério correspondente. Não verá, também, nenhuma proposta de discussão da segunda pauta de reivindicações dos professores que pede investimentos nas universidades públicas adequados à expansão com qualidade que os novos alunos demandarão. A expansão promovida pelo Governo, como a imprensa vem publicando aqui e ali, foi feita à toque de caixa e as universidades estão com imensa dificuldade para se ajustarem às demandas desse crescimento desordenado. Em uma palavra: Arbitrariedade, eis o que os professores recusaram!